Quem foi Emmanuel Kant

immanuelFilósofo alemão. Nasceu em 22 de abril de 1724 em Königsberg e morreu em 12 de fevereiro de 1804. Kant era filho de um artesão humilde, que trabalhava com artigos de couro. Estudou no colégio Fridericianum e na Universidade de Königsberg onde mais tarde tornou-se professor catedrático, depois de alguns anos como preceptor de filhos de famílias ricas. Kant nunca saiu da sua cidade natal, mas o seu legado filosófico percorreu o mundo servindo como fonte da qual brota a maior parte das reflexões dos séculos XIX e XX.

O universo espiritual submetido por Kant ao crivo da análise crítica compunha-se de elementos variados e contraditórios; apesar dessa dificuldade, esses elementos podem ser sintetizados em torno de duas grandes questões, a partir das quais se desdobram inúmeras outras.

A primeira dessas questões diz respeito ao conhecimento, suas possibilidades, seus limites, suas esferas de aplicação. Com relação a esses problemas, a filosofia do século XVIII defrontava-se com duas ciências que se apresentavam como conjuntos de conhecimentos certos e indiscutíveis: a matemática e a física. A matemática tivera grande desenvolvimento a partir do Renascimento – sobretudo devido a criação da geometria analítica por Descartes (1596-1650) e do cálculo infinitesimal por Newton (1642-1727) e Leibniz (1646-1716) – , constituindo-se no próprio modelo do conhecimento científico, graças a seu caráter absolutamente necessário e universal. A física matemática, embora fosse uma disciplina jovem (não tinha mais de dois séculos), triunfara de maneira completa com a sistematização realizada por Newton, também se constituindo num conjunto de proposições necessárias e universais. Seus resultados no estudo dos movimentos dos corpos e na astronomia indicavam o caminho a ser seguido por todos que pretendessem conhecer os fenômenos naturais. Ao lado da matemática e da física, persistiam ainda no pensamento ocidental os grandes sistemas metafísicos – na Alemanha de Kant, imperava o sistema leibniziano na versão de Christian Wolff (1679-1754) – que pretendiam dar respostas para os problemas da realidade última das coisas. A metafísica, contudo, não era matéria pacífica, capaz de oferecer soluções aceitas unanimemente, apesar de tentar demonstrações rigorosas. Kant foi “despertado do sono metafísico” pelo pensamento de David Hume cujas análises, especialmente do conceito de causalidade, demoliam as pretensões do dogmatismo metafísico de afirmar verdades eternas a respeito da essência última de todas as coisas.

A segunda grande questão que sintetiza o universo das idéias ao tempo de Kant é o problema da ação humana, ou seja, o problema moral. Tratava-se de saber não o que o homem conhece ou pode conhecer a respeito do mundo e da realidade última, mas do que deve fazer, de como agir em relação a seus semelhantes, de como proceder para obter a felicidade ou alcançar o bem supremo. Essa área da reflexão filosófica e sua oposição à razão apenas cognitiva foi revelada a Kant sobretudo pelas obras de Rousseal, que formulou uma filosofia da liberdade e defendeu a autonomia e o primado do sentimento sobre a razão lógica. Por outro lado, Kant, embora vivendo na distante Königsberg, longe de Paris e dos grandes centros, sempre teve plena consciência dos problemas sociais e políticos da época e tomou partido favorável à Revolução Francesa, na qual via não apenas um processo de transformação econômica, social e política, mas sobretudo um problema moral.

A essas duas grandes questões aliaram-se no espírito de Kant os problemas da apreciação estética e das formas de pensamento da biologia, cujas peculiaridades em relação ao problema do conhecimento e ao problema da moral articulou numa visão sistemática das funções e dos produtos de razão humana. Todos esses problemas foram analisados por Kant em inúmeras obras, redigidas e publicadas de 1746 até 1798. Entre elas destacam-se: História Geral da Natureza e Teoria do Céu (1755), O Único Argumento Possível para um Demonstração da Existência de Deus (1763), Sonhos de um Visionário, Interpretados Mediante os Sonhos da Metafísica (1766), Dissertação sobre a Forma e os Princípios do Mundo Sensível e do Mundo Inteligível (1770), Prolegômenos a Qualquer Metafísica Futura que Possa Vir a Ser Considerada como Ciência (1783), Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785). Mas foi sobretudo em três obras que todas as questões filosóficas compareceram diante de um tribunal, especialmente formado para julgar a razão: a crítica. O problema do conhecimento é examinado na Crítica da Razão Pura (1781); A Crítica da Razão Prática (1788) analisa o problema moral; e a Crítica da Faculdade de Julgar (1790) estuda a beleza natural e artística e o pensamento biológico.

Na Crítica da Razão Pura, Kant tenta responder as questões: “Que podemos conhecer?”; “Que podemos fazer?”; “Que podemos esperar?”; e remete a razão centro do mundo como Copérnico remetia o Sol ao centro do sistema planetário. Kant põe em movimento a revolução copernicana no domínio prático. Realiza esta revolução metodológica e mostra como o entendimento, legislando sobre a sensibilidade e a imaginação, torna possível uma física a priori.

Crítica da Razão Pura é a obra-prima de Kant. Seus efeitos se fazem sentir ainda hoje na investigação filosófica e científica.

Na Crítica da Razão Prática, Kant expôs a doutrina ética que lhe serviu de base para a demonstração de uma ordem transcendente, sem que fosse necessário recorrer à metafísica especulativa. A ética, para ele, não precisa dos dados da sensibilidade e, portanto, não pode cair em “ilusões”.

O imperativo categórico kantiano pode ser assim enunciado: “Age de tal modo que o motivo que te levou a agir possa tornar-se lei universal”.

Na Crítica da Faculdade de Julgar, Kant analisa as noções de beleza e finalidade, inerentes ao homem e também não explicáveis pela experiência. A intuição estética realiza a síntese entre os dois termos, a imaginação (sensibilidade) e o entendimento, permitindo que a razão se torne sensível e a sensibilidade, racional.

Texto extraído dos livros:

KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura . São Paulo: Nova Cultural, 2000. (Coleção os Pensadores).

KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Martin Claret, 2003. (Coleção a obra-prima de cada autor).

KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática. São Paulo: Martin Claret, 2003. (Coleção a obra-prima de cada autor).